quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Arte de Interpretar por Shirley Viana


Quero apenas um espaço, não precisa ser um palco necessariamente, só preciso de personagens.
Pronto estou na rua, estou no palco, estou num espaço, mas estou na personagem e no momento em que ela estiver em mim, não existe mais Shirley Viana.
Mas de repente acabou e os aplausos começaram meu corpo vai voltando a si.
A primeira vez que pisei num palco de teatro eu tinha 06 anos, foi na escola em que fiz o prézinho, fui declamar um poema do dia das mães, todo mundo achava que eu não ia entrar na época nem sábia ler, minha mãe que lia para mim e me ajudou a decorar.
Imagina! Como não ia entrar? Entrei e não só declamei como interpretei, eu era uma menininha ainda, mas eu me senti tão à vontade, que maravilhoso era estar ali, interpretando e passando emoção para as pessoas, brincando de ser poeta.
Depois vieram às outras personagens: A árvore, Lúcia já vou indo, Raposa, a Índia que entrava e morria logo no começo, a Mônica, Curupira, a minha primeira protagonista: o Mosquito Fêmeo da Dengue, a segunda protagonista, enfim, todos esses personagens acontecendo na minha infância e adolescência.
Depois eu tive encontros com: Miquelina, Mulher do Padeiro, Maria da Graça, Senhora Shampoo, Rosinha a Doutora da alegria, Bernadete, Roberta (Curta Metragem - Além da trilha), Roberta Carlas e Neusa Sueli.
É claro que todas essas personagens são especiais, cada uma com suas particularidades.
Essa última personagem que fiz a Neusa Sueli, foi o meu maior desafio, ela faz parte de um dos personagens do autor Plínio Marcos. Ter estudado a vida e obra desse homem foi uma verdadeira lição, as pessoas dizem: os textos dele são muito pesados e eu posso garantir, não são pesados, eles só retratam a realidade nua e crua de uma gente que existe e estão por ai.
A realidade de um mundo cruel, onde um explora o outro, onde o caminho a seguir é sempre o mesmo, porque essa gente não vê outra opção e vivem apenas aquilo.
Com o Plínio Marcos eu aprendi que ator ou atriz, não está em cena para ficarem bonitos, para alimentar um ego, e sim para servir. Servir o expectador, de informações, de questionamentos, como a carta do filho dele diz no final: Essa gente acredita em Deus, mas FODE com ele. Será que isso não é verdade?
Plínio Marcos morreu pobre, porque ele não se vendeu, escrevia para incomodar.
Por isso me senti extremamente honrada em fazer a Neusa Sueli, uma prostituta que retrata as características mais fortes dos textos de Plínio.
Ela apanha, ri de desespero, chora, fica seminua em cena, cai, mas ela levanta até a última conseqüência, grita de dor, ela só quer ser gente, mas pra ela não resta nem a dignidade.
Interpretando Neusa Sueli, eu descobri, que não basta só você entender o ou decorá-lo, tem que mergulhar fundo e sentir a essência do autor.
Sou chata, às vezes até briguenta, mas eu quero força, alma e entrega até a última gota de suor.
Críticas sempre vão existir, pessoas vão amar o seu trabalho, outras irão detestar.
Mas, independente das críticas, minha consciência sempre vai estar tranqüila, porque podem falar mal de tudo, mas eu tenho certeza que me entreguei.
Porque a cada personagem doou a minha alma, o meu corpo, a minha raça e vou até as últimas conseqüências, por isso é tão real, por isso a Shirley Viana é esquecida no momento em que cada um deles existe em mim.
TEATRO A VERDADEIRA ARTE DE INTERPRETAR!

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